De acordo com um artigo publicado no Exame, um meio de comunicação brasileiro, enquanto percorremos o nosso feed e vemos uma tendência a explodir no TikTok ou no X, há uma empresa a analisar tudo em tempo real: o que se torna viral, o que desaparece e o que pode transformar-se em dinheiro.
O Elifegroup, proprietário da plataforma Buzzmonitor, transformou a análise das redes sociais num negócio milionário.
Em 2024, faturou cerca de 121 milhões de reais (cerca de 20 milhões de euros) ao ajudar marcas como Casas Bahia e McDonald’s a entender o que os consumidores estão a dizer online e como usar essas informações a seu favor.
Mas nada disto aconteceu da noite para o dia.
A empresa começou em 2004, muito antes das redes sociais tomarem conta do mundo, e cresceu sem um cêntimo de investimento externo. “Passámos 20 anos a explicar o que estávamos a fazer. Agora, o mercado entendeu o seu valor”, diz Alessandro Lima, fundador do Elifegroup.
O próximo passo? Expandir
A Buzzmonitor já opera em 10 países da América Latina e está a conquistar clientes na Europa. Para 2025, o objetivo é acelerar a presença global e investir ainda mais em inteligência artificial.
Este crescimento fez com que a empresa fosse um dos Negócios em Expansão destacados pelo EXAME. Este ranking, o maior anuário de empreendedorismo do Brasil, celebra as empresas com maior crescimento de um ano para o outro. Em 2024, a Buzzmonitor registou um crescimento de 31%, ficando em 55º lugar na categoria de empresas com faturação entre 30 e 150 milhões de reais (aproximadamente, entre 5 e 25 milhões de euros).
Do Orkut ao TikTok: como nasceu o Elifegroup
Quando o Elifegroup apareceu pela primeira vez no EXAME, em 2006, o título da notícia era “Caçadores de Fofocas”. E fazia sentido: na altura, a empresa monitorizava fóruns e blogs para perceber o que se dizia sobre as grandes marcas.
“Em 2004, ninguém imaginava que ouvir o que os consumidores dizem na internet poderia ser um negócio”, diz Lima.
Hoje, a história é diferente. A indústria de social listening atingirá cerca de 15,6 mil milhões de euros até 2029, segundo a Mordor Intelligence. As empresas querem saber tudo o que está a ser dito sobre elas nas redes sociais, e a empresa Elife tem vindo a fazê-lo há 20 anos.
A empresa nasceu a partir de uma tese de mestrado na Universidade de São Paulo (USP), no Brasil. Lima estudava de que forma as pessoas trocavam informações online, na era dos blogs e fóruns.
“Nos Estados Unidos, as empresas farmacêuticas foram obrigadas a monitorizar os fóruns porque os pacientes relatavam os efeitos secundários dos medicamentos”, explica Lima. “Isso abriu um mercado gigantesco para o social listening.”
Ao ver esta oportunidade, Lima e o seu sócio, Jairson Vitorino, fundaram o Elifegroup. No início, prestavam serviços a grandes empresas mas, com o tempo, perceberam que podiam crescer mais rápido com o seu próprio software e, assim, nasceu a Buzzmonitor.
O que faz cada empresa do Elifegroup?
Atualmente, o grupo é constituído por três empresas:
- Elife: A empresa original, focada em serviços de atendimento digital e monitorização de redes sociais para grandes marcas, como Casas Bahia e McDonald’s. “Cuidamos da experiência do cliente e criamos soluções de automatização”, explica Lima.
- SA365: Agência de marketing digital do grupo, especializada em estratégia de marca e conteúdo.
- Buzzmonitor: É o braço tecnológico do grupo e a sua maior aposta de crescimento. A plataforma monitoriza e gere o atendimento nas redes sociais, ajudando as marcas a compreender o que se diz sobre elas online.
A Buzzmonitor tornou-se o maior caso de sucesso do grupo. Criada há 12 anos, a plataforma nasceu como uma ferramenta interna e tornou-se depois numa empresa independente.
“Começou dentro da Elife para melhorar o nosso próprio trabalho. Em 2012, percebemos que tinha potencial para funcionar de forma autónoma”, conta Lima.
O que faz a Buzzmonitor?
A Buzzmonitor é um software de social listening, ou seja, uma ferramenta que rastreia menções de marcas, concorrentes e tendências nas redes sociais.
Se uma empresa como a Ambev quer saber tudo o que está a ser dito sobre a Brahma, pode usar a plataforma para monitorizar essas conversas. Além disso, a Buzzmonitor também permite que as marcas respondam diretamente aos clientes a partir da plataforma.
“Hoje em dia, os consumidores falam com as marcas nas redes sociais. Se uma empresa não responde rapidamente, perde a oportunidade”, diz Lima.
Ainda mais, a Buzzmonitor permite agendar publicações e analisar o desempenho das campanhas. Para as empresas, isto significa reagir rapidamente a uma crise ou aproveitar um meme como uma oportunidade de marketing.
“O tempo de reação faz a diferença. Quem entender as redes antes dos outros, está dois passos à frente”, diz Lima.
Crescimento sem investimento externo
Enquanto alguns concorrentes receberam milhões em investimento, a Buzzmonitor cresceu por bootstrapping, ou seja, sem financiamento externo.
“Fizemos tudo sozinhos”, diz Lima.
E funcionou. Hoje, a plataforma gera 9,6 milhões de euros por ano, com 8,6 milhões no Brasil e 1 milhão na América Latina. Em 2024, o crescimento nesta última região foi de 61%. Para 2025, a meta é duplicar este número.
“Todos dizem que é impossível crescer sem investimento externo, mas estamos a provar que é possível construir um negócio sustentável sem perder o controlo”, diz Lima.
IA, expansão e um novo público
A inteligência artificial está a mudar o jogo. A Buzzmonitor já utiliza a IA para analisar as menções e sugerir respostas automáticas às marcas. Mas o Elifegroup quer ir mais longe: lançou o CXPress, um serviço direcionado para pequenas e médias empresas que precisam de automatizar o atendimento ao cliente no WhatsApp, Instagram e chatbots.
“A Elife sempre trabalhou com grandes marcas, como Casas Bahia e McDonald’s. Agora, com o CXPress, queremos levar esta tecnologia para negócios mais pequenos”, explica Lima.
A expansão global também está no radar. A Buzzmonitor já tem clientes em Portugal e Espanha, e está a apostar no seu crescimento na Europa.
“O Brasil sempre esteve na vanguarda das redes sociais. Agora, estamos a levar a nossa experiência para fora do país”, diz Lima.
Se alguém está a falar de uma marca na internet, a Buzzmonitor está a ouvir. E está a fazer dinheiro com isso.
O que é o ranking EXAME Negócios em Expansão?
O ranking EXAME Negócios em Expansão é uma iniciativa do EXAME e do BTG Pactual (que pertence ao mesmo grupo). O seu objetivo é identificar as startups brasileiras com as maiores taxas de crescimento na receita operacional líquida num período de 12 meses.
Em 2024, a pesquisa avaliou que empresas brasileiras conseguiram aumentar as suas receitas em 2023. O ranking considera negócios com faturação anual entre 2 milhões e 600 milhões de reais, o equivalente a cerca de 335 mil e 100 milhões de euros.
Após uma análise detalhada das contas financeiras das empresas inscritas, a edição de 2024 do ranking foi lançada no dia 24 de julho. No total, 371 empresas de 23 estados brasileiros foram reconhecidas por desenvolverem produtos inovadores, conquistarem mercados e gerarem milhares de empregos.